Entrevista com Ken Silverio
Nosso entrevistado do mês nasceu na República Dominicana e já trabalhou com vinhos e destilados no seu país de origem, além do Chile, Bolívia e Brasil. Hoje, ele mora na Inglaterra e representa na Europa uma das mais importantes vinícolas em todo o mundo, a Catena Zapata. Conheça em mais detalhes um dos profissionais que a gente mais admira aqui na Única, o Ken Silverio.
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Onde você nasceu e em quais países você morou?
Nasci na República Dominicana, passei muitos dos meus verões e invernos nos Estados Unidos para aproveitar o tempo com minha família lá, principalmente em Nova Iorque, Flórida, Dallas, Texas e Rhode Island.
Morei em Santiago, Chile em 2015 por cerca de um ano e depois me mudei para São Paulo por cerca de 3 anos. Após minha estada no Brasil me mudei para Bogotá, na Colômbia, onde passei 2 anos. Atualmente estou morando em Londres, no Reino Unido, já há um ano e meio.
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Quantos idiomas você fala de forma fluente? Você aprendeu estes idiomas por conta do trabalho no vinho?
O espanhol é minha língua materna. Eu aprendi inglês devido ao tempo que passei nos Estados Unidos todos os anos desde que era muito jovem.
Apaixonei-me, no entanto, pelo francês o que me levou a estudá-lo na República Dominicana, além de me expor à música francesa (sou grande fã de Aznavour), Trabalhar para marcas de vinho francesas também me ajudou bastante. Hoje tenho muitos amigos daquele país e acabei me casando com uma pessoa que fala francês.
Já o português foi a língua pela qual me apaixonei assim que cheguei ao Brasil. Na época mal falava ‘Obrigado’ e ‘Td bm’. Agora me sinto como um local sempre que falo com meus amigos e clientes brasileiros. 😊
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Como você começou no mundo do vinho?
Por alguma razão fiquei muito interessado em toda a ‘ideia’ do vinho, desde as histórias por trás de cada garrafa, mais as histórias que você constrói enquanto saboreia um rótulo. Incluindo também tudo que permeia o vinho, seja uma boa culinária e lugares ao redor do mundo. Com certeza o componente da viagem e a oportunidade de se conectar com diferentes culturas, são todas movidas pelo mesmo interesse, o Suco de Uva!
O vinho é um ótimo veículo para se conectar com as pessoas.
Uma vez, devido a um trabalho da faculdade na República Dominicana, eu tive que entrevistar um Brand Manager de uma empresa e montar uma apresentação com os resultados da entrevista. Já que eu tinha a liberdade para escolher qualquer tipo de empresa, eu optei por uma companhia que era importadora de vinhos e destilados.
Depois de esperar cerca de 30 minutos, o Brand Manager não pôde me receber, mas o Diretor de Vendas estava lá e se ofereceu para ser entrevistado. Uma semana depois, eu era o novo Representante de Vendas substituto e até hoje sou amigo desse Diretor.
Difícil de acreditar que isso foi há quase 13 anos, quando eu tinha apenas 20 anos :-). Essa empresa pertence ao The Edrington Group, que me deu acesso a um portfólio impecável de vinhos e destilados de luxo. Esse encontro deu início à minha jornada no vinho.
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Você tem uma experiência vasta, Ken. Pode nos dar uma visão das empresas onde atuou dentro do mercado de vinho?
Depois do The Edrington, na República Dominicana, tive a oportunidade de conhecer o Diretor da Moet-Hennessy para o Caribe. Eles me ofereceram a vaga de Brand Manager / Brand Ambassador de todo o portfólio de bebidas. Isso abriu um novo mundo para mim em termos de compreensão das marcas de luxo e da dimensão da nossa indústria, e claro que veio com muito stress e muita diversão!
Era o tipo de situação: ‘Trabalhe duro, jogue duro’. Mas, foi um grande aprendizado, fui responsável pela estratégia e planejamento de marketing das marcas, além de estar envolvido diariamente com clientes e equipe de vendas.
Depois disso, fui contratado pela família Lapostolle, no Chile, os criadores do Grand Marnier. Eles me ofereceram o cargo de Diretor Regional da América Latina com base no Chile e depois no Brasil. Sou grato por ter feito parte de uma vinícola boutique de propriedade familiar. Ali tive a oportunidade de ter contato direto com a família e me envolver em vários aspectos do negócio, o que foi uma experiência fascinante, especialmente ao nível de prestígio e também do savoir francês. O Chile é um país de produção vitivinícola lindíssimo.
Depois de quase 5 anos na Lapostolle, e enquanto morava em São Paulo, recebi uma mensagem no WhatsApp que me fez congelar. Um amigo me perguntou se eu pensaria em trabalhar para Catena Zapata, eu respondi: F*CK YEAH , porque? Ele me respondeu dizendo: Porque Laura Catena está procurando alguém e ela mencionou seu nome. Quase peguei um avião para a Argentina na época, de tanta empolgação.
Depois de algumas conversas entrei para a equipe internacional da Catena em 2019. Enquanto morava em Bogotá, estava envolvido nas tratativas da empresa para as Américas. Agora, desde que me mudei para Londres em 2021, estou envolvido no mercado europeu.
Independentemente da herança de 120 anos de vinificação em 4 gerações da Família Catena, independentemente da imensa quantidade de pesquisa e inovação conduzida no Catena Institute of Wine, independentemente de todos os elogios e deliciosos vinhos, a melhor parte disso é trabalhar ao lado de Laura Catena e ter acesso ao seu vasto conhecimento. Não só sobre o vinho e o negócio mas também sobre as pessoas.
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Como você lida com as diferenças culturais tendo trabalhado em tantos países distintos? Sente que já sofreu algum preconceito em algum desses lugares?
Eu abraço as diferenças, principalmente as culturais, não porque soa legal fazer isso hoje em dia, mas porque a beleza de uma sorveteria é ter uma infinidade de sabores! Quão chato seria apenas os sabores de caramelo ou baunilha.
Adoro navegar nessas diferenças e descobrir que muitos dos meus relacionamentos mais significativos são com pessoas que parecem, pensam e agem de maneira diferente de mim (sem brincadeira, minha esposa é o melhor exemplo disso). Tudo isso também é uma grande fonte de aprendizado.
Se eu encontrei algum preconceito, racismo, ignorância, classismo, xenofobia e etc.? Claro que sim, mas a quantidade de coisas boas é cerca de 10x a quantidade de coisas ruins que encontrei ao longo da minha carreira, então não posso reclamar nem afirmar que isso me afetou de alguma forma negativa.
Se ninguém te odeia, você deve estar fazendo algo errado, certo? 😊 brincadeira, não odeie, ame!
😉Gosto de ter em mente que muitas vezes quando alguém projeta negatividade contra você, essa pessoa pode estar tendo um problema consigo mesmo, não é sobre você. Embora seja importante uma dose de autoconsciência para identificar quando você é a pessoa que está sendo babaca numa situação (eu já fiz isso). Como um bom vinho, a palavra-chave é ‘equilíbrio’.
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Você possui uma personalidade expansiva, além de um enorme carisma. Mas existe algo nesse mercado que é capaz de abalar a sua força?
Gosto de me achar muito antifrágil, não sei se isso é verdade, mas sempre digo: ‘Se minha família está bem, então eu estou bem’. Ou seja, todo o resto pode ser consertado ou resolvido, desde que minha fundação está ok, minha filha Elena, meu filho Arthur e minha esposa Vanessa. Minha família, meu time dos sonhos.
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Você já passou por alguma saia-justa dentro do seu trabalho, mas que no final virou risada? Pode nos contar?
Hahahahaha tenho um monte de histórias para contar, mas não dá pra falar aqui, teria que ser em off, por cuidado com as pessoas envolvidas. Fica pra próxima.
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Em suas redes sociais, você demonstra outra paixão além dos vinhos, que são os charutos. Como nasceu essa paixão e quais vinhos ou destilados você mais gosta de harmonizar com charutos, em geral?
Tem uma música popular na República Dominicana muito famosa que se chama: ‘Tabaco y Ron’. E essa é com certeza a minha harmonização favorita. Simplesmente porque trata-se da famosa memória sensorial. O aroma do charuto e o rum me faz sentir que estou sentado ao lado do meu tio na República Dominicana tendo umas 5 horas de conversa como costumávamos ter enquanto morávamos lá.
Charutos e vinhos têm muito em comum, acho que estudar sobre vinhos durante meus WSETs (L2-Chile, L3-Brasil, Diploma-UK) me ajuda a entender as nuances dos charutos em um nível mais profundo. Toda vez que eu fumo um charuto ou tomo um vinho ou destilado, já não estou mais a beber nem a só provar, estou a avaliar, ou pelo menos é o que tento realizar.
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O que o Ken de hoje falaria para o que Ken no início da carreira no mercado de vinhos?
Compre Bitcoin hahahaha Bricadeira. Na verdade falaria isso sim, mas também falaria: ‘Relaxa cara e aproveite a jornada, tudo vai dar certo’. 😉