Mudanças climáticas. O que já sabemos.
As já visíveis mudanças climáticas causadas por desequilíbrios na exploração de nossas fontes naturais e agressões constantes ao ambiente é algo real e preocupante. Os impactos são inúmeros e beiram o momento da irreversibilidade.
É necessário que estes impactos sejam estancados e minimizados de imediato.
Há muitos estudos com resultados e perspectivas que estão auxiliando e direcionando produtores do mundo sobre a necessidade de adaptações e mudanças na forma como cuidar de suas videiras.
A França e a mudança de calendário de vindima
Na França, estudos mostram que as temperaturas durante a estação de crescimento aumentaram de +1 °C para +2,1 °C desde a segunda metade do século 20 e podem subir para +3,7 °C nas regiões ao redor do Mediterrâneo até 2070.
A variação entre modelos em relação à precipitação é alta, uma mudança significativa (diminuição) na precipitação durante a estação de crescimento da videira é observada apenas para as regiões do oeste da França (clima oceânico) no período 2040-2071.
Todos os estágios fenológicos simulados mudaram para datas anteriores. Sua ocorrência deve ser ainda mais precoce em 2070, com um avanço médio de até 22 dias para o meio-veraison da Pinot noir no leste da França.
A data de maturação teórica (teor de açúcar) também deve ser antecipada de 19 a 30 dias dependendo da região considerada e SSP. O aumento do número de dias quentes e do déficit hídrico da videira durante o período de desenvolvimento dos frutos deve impactar a produção de uva em qualidade e quantidade em todas as regiões vitivinícolas.
As projeções de geada na primavera não mostram nenhuma mudança significativa no risco para a segunda metade do século 21, em comparação com as condições atuais.
A Austrália e um possível deslocamento de eixo de produção
Na Austrália, estudos que se concentraram nos possíveis impactos da mudança climática para 2041 – 2060 mostram que as regiões mais quentes podem se tornar as mais afetadas negativamente. Embora temperaturas mais altas possam levar a uma qualidade inferior na maioria das regiões, as três maiores regiões atingidas pelo calor podem ter temperaturas muito altas para produzir uvas de qualidade mínima.
Consequentemente, até dois terços da atual produção de uva (devido aos grandes volumes de produção de Riverland, Riverina e Swan Hill-Murray Darling) pode estar em regiões nas quais tanto a qualidade quanto a produtividade da uva podem ser afetadas negativamente.
Esses dados favorecem os estudos que indicam que a Austrália deveria deslocar sua produção para regiões mais frias e longe das maiores regiões quentes.
Na Austrália, pesquisas adicionais poderiam observar o impacto de outras variáveis climáticas e o impacto de eventos climáticos, como secas, que devem aumentar no futuro e podem levar a efeitos da mudança climática potencialmente diferentes daqueles que estimamos. Isso ocorre porque pode se tornar mais difícil e mais caro (ou mesmo impossível em vinhedos sem irrigação) manter níveis adequados de umidade do solo para atingir os rendimentos desejados.
O Chile e suas mudanças associadas
O Chile parece reunir os dois pontos de preocupação acima. Mudanças de clima que influenciam nos períodos de colheita e também deslocamento ou ampliações de eixos produtores já são fatos notórios no país.
Estudos realizados entre 1985 e 2015 no país indicam que, de latitudes norte a sul no Chile, a precipitação média anual aumentou – o que difere dos países acima mencionados – enquanto a temperatura média anual diminuiu. As tendências indicaram que a temperatura mínima diminuiu significativamente em 0,33 ºC, enquanto a temperatura máxima aumentou significativamente em 0,83 ºC durante o período de 30 anos deste estudo.
Alguns locais como os vales de Coquimbo e Aconcágua, mudaram de climas intermediários para quentes, enquanto outros dos vales de Coquimbo e Central mudaram de climas quentes para quentes durante o período de 30 anos deste estudo.
A análise mostra que as variáveis meteorológicas possuem uma forte relação com a distância do local ao Oceano Pacífico, o que corrobora estudos anteriores. Este foi o primeiro estudo que analisou a tendência e variabilidade das zonas vitícolas nacionais de norte a sul, fornecendo informações valiosas e significativas sobre o efeito do aquecimento global nas zonas vitícolas do Chile.
Ainda é muito cedo para considerarmos certeiras e definitivas tais mudanças, mas é certo que não podemos esperar inerte por elas. Mais pesquisas também são necessárias para entender o impacto que a mudança climática pode ter nos custos e nos lucros gerais. Por exemplo, um clima mais quente e seco pode diminuir a necessidade de fungicidas, mas aumentar enormemente o custo da irrigação nas regiões mais quentes.
Há ainda o benefício que estas mudanças podem levar a algumas regiões. E sobre isso falaremos no próximo mês.
Até a próxima coluna, Keli Bergamo