Procura-se profissional do mundo dos vinhos
Dia a dia eu ouço a mesma reclamação: não conseguimos pessoas para trabalhar aqui.
Embora eu entenda que isso é uma situação generalizada, no mercado do vinho parece que aquela aura de glamour que foi falsamente criada pela própria indústria está afastando e decepcionando possíveis profissionais.
“Faça um curso, que isso vai mudar sua vida.”
“Construa sua carreira com essa certificação internacional.”
O que são? São promessas. De alguma forma foi vendida a ideia de que se tornar um expert nesse produto cheio de peculiaridades e atuar nesse nicho é algo transformador. E isso ajudou a criar pessoas de certa forma iludidas com algo que, ao final do dia, é apenas uma carreira como qualquer outra.
A verdade é que o mercado, para continuar em ritmo crescente e com muitas frentes de atuação, depende de gente com vontade de fazer algo diferente. Mas atenção: o mercado não precisa de gente que caia de paraquedas sem entender a diferença entre brancos e tintos, mas também não é tão restrito a ponto de exigir saber os nomes dos rios que cortam o sul da França.
As redes sociais – sempre elas – são catalisadoras desse momento.
Lá, na terra de cegos, quem tem um olho é rei. E esse olho é muito bem explorado.
Eu mesma me sinto às vezes responsável pela falsa impressão de vida fácil que minhas redes podem transmitir. Muitas viagens, vinhos premiados e gente feliz.
Uau. Quero a vida da Keli Bergamo.
Aliás, inspirada totalmente em fatos reais, divido algo com vocês.
Um importador já me contou que, em uma entrevista de emprego, ao listar as funções que estavam compreendidas no exercício do cargo, o aspirante questionou: “Ah, mas não é um trabalho tipo da Keli Bergamo?”
Rapaz, será que entro no Ministério do Trabalho e peço para incluir essa carreira? Profissão: KB
A transição de carreira inspira, mas não é cheia de amores e lindos cenários com uma interiorana flutuando com saias rodadas. Tem muitas incertezas e muito planejamento dia a dia (afinal, a acomodação não é algo saudável em nenhuma área). Tem muita troca com gente que está há mais tempo que eu nessa lida. Tem muito trabalho pouco instagramável. Tem obrigações e responsabilidades.
E, principalmente, tem pés no chão. Lá atrás, quando eu também vislumbrava um glamouroso cenário, fui aprendendo que as coisas não eram exatamente assim enquanto recebia quase nada (e por vezes pagava) para trabalhar. Mesmo sendo educadora, via que vendíamos uma falsa impressão sobre o mundo fantástico dos vinhos.
A questão é que trabalhar com vinho é tiro, porrada e bomba como qualquer outro trabalho. Só que com vinho, vale a dedicação.