Entrevista com Bruna Cristófoli
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Conte um pouco da história da sua família e seu envolvimento com o vinho.
Somos uma família de viticultores, ou seja, sempre vivemos da uva, desde que o meu tataravô veio para o Brasil. A gente sempre trabalhou com isso, sempre tivemos vinho na nossa casa e é algo bem natural, né? Percebo que todas as pessoas que vêm de regiões vitícolas, fazem seu próprio vinho para beber. Então, foi bem através desse saber-fazer da nossa família que nós começamos a elaborar vinhos também para vender, além do consumo próprio. Eu nasci em 1986 e minha entrada nesse mundo foi de forma muito orgânica, visto que eu tinha tudo literalmente dentro de casa.
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Na Cristófoli vocês investem também em experiências e enoturismo, como você enxerga essas atividades na jornada do consumidor de vinho? Qual perfil de pessoas que mais visitam a Vinícola Cristófoli?
Eu acredito que o enoturismo é inerente a quem gosta de vinho. E a gente percebe que quem viaja para regiões vinícolas também aprecia outros temas como cultura, história, belas paisagens e o mundo do vinho está associado a isso também. Existe até um hino de Bento que diz, Bento Gonçalves bordada de parreirais, por conta da beleza da região.
A gente começou com o enoturismo justamente porque as pessoas passavam por nós, viam que existia uma vinícola ali e decidiam parar. Então, pra Cristófoli, é muito importante trazer esses turistas para dentro da nossa casa, para podermos ensinar a essas pessoas sobre os nossos vinhos.
Em seguida, a gente também percebeu que os visitantes não queriam somente saber sobre os vinhos, eles queriam se aprofundar no tema, conhecer o vinhedo, ter contato com quem produz o vinho, ter contato com a nossa comida e até ouvir o nosso sotaque. Foi daí que a gente criou várias experiências como o piquenique, o passeio pelos vinhedos e a pisa das uvas que é uma grande festa que acontece no verão.
Nós fomos criando as experiências com base naquilo que a gente ouvia das pessoas também. Hoje parte do nosso cliente é da grande Porto Alegre, do Rio de Janeiro e de São Paulo. A gente também recebe bastante turistas que já possuem algum conhecimento sobre vinho e que já viajaram por diferentes regiões no mundo, mas que agora querem conhecer melhor o Brasil. Mas também recebemos pessoas que chegam até nós não pelo vinho, mas pela história e para desbravar novos lugares. A grande maioria, no entanto, vêm até a vinícola para descobrir novos lugares e experiências dentro do Brasil.
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Pode falar um pouco do projeto Novos Talentos do Vinho Brasileiro, e quais os objetivos dessa empreitada?
O Projeto Novos Talentos é o encontro de 6 amigos, 6 colegas de trabalho que se juntaram primeiramente com seus CPFs e depois com seus CNPJs para prospectar novos mercados e criar soluções comerciais para os negócios com quem atuamos.
Entre essas soluções estão cartas de vinhos, eventos, degustações e também uma facilitação no pedido, pois os nossos clientes podem fazer apenas um pedido e comprar com as seis vinícolas ao mesmo tempo. Ou seja, ajuda muito em termos de tempo também, pois as empresas têm apenas um ponto de contato para falar com a gente.
Nós estamos no início do projeto, estamos aprendendo também, mas já recebemos bons feedbacks de parceiros. O lado bom desse projeto também é que uma empresa apoia a outra, e quando conseguimos bons acordos, sempre tentamos trazer nossos companheiros de projeto também.
Outro ponto é que para que um projeto como esse aconteça, você precisa confiar mesmo nos parceiros já que todo mundo sabe a tabela de preço um do outro, conhece as estratégias, todo o catálogo, etc. A gente também se apoia quando o assunto é a parte técnica, seja entre nós como também na compra dos produtos, dos insumos enológicos.
Pra nós o céu é o limite, a gente tá vendo muitas pessoas interessadas nesse projeto, afinal a gente têm, somadas as seis vinícolas, mais de 100 rótulos disponíveis, ou seja, tem para todos os gostos, estilos e bolsos.
Olha, o brasileiro está ávido pelos vinhos do Brasil. Os consumidores querem beber novos vinhos. O preconceito tá mais na cabeça dos profissionais do que na cabeça dos consumidores, então o nosso trabalho é abrir garrafas e abrir cabeças também risos tá sendo bem bacana!
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Você é uma pessoa inovadora e incansável, o que podemos esperar de novidades próximas?
Obrigada pelas palavras. Eu não me vejo como uma pessoa inovadora, mas certamente uma pessoa trabalhadora. Imagino que nos momentos de descanso de muitas pessoas, a gente tá lá trabalhando bastante e eu acho que isso faz muita diferença.
Em termos de novidades, na vinícola nós teremos alguns lançamentos de vinho, estamos plantando mais vinhedos e focando na expansão comercial.
Daqui pra frente as pessoas irão me ver viajando bem mais, inclusive até mais fora da vinícola do que dentro. Essa tem sido a minha missão, levar a nossa marca, o nome da nossa família e nossos vinhos para o maior número de clientes. Tanto que, agora estou te mandando essa mensagem do Rio de Janeiro e devo voltar pra São Paulo em seguida. A vida tá assim, toda dentro da mala ultimamente rsrs.
Eu estou sempre muito à disposição para visitar nossos parceiros, fazer treinamentos com as empresas que comercializam nossas marcas, então eu estou bastante focada nisso.
Além disso, no final do ano passado a gente abriu um restaurante no meio da nossa vinícola, entre os nossos vinhedos. É um lugar lindíssimo e de muito bom gosto, então temos mais essa experiência que precisamos também focar e cuidar daqui pra frente.
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O que a Bruna de hoje diria para a Bruna em começo de carreira?
Eu diria pra mim mesma não ter medo de caminhar onde nunca fui, não tenha vergonha de entrar onde nunca entrei, para ter sempre coragem, que vender vinho é muito importante, é a vida do negócio! O resto tá no nosso DNA. Bruna, não larga o osso!