Investimento em vinho vale a pena?
Se você é apaixonado/a por vinho assim como eu, já deve ter gastado algumas vezes mais do que esperava com algumas garrafas. E se essa gastança toda virasse investimento e lá na frente você pudesse realizar que, ao invés de menos dinheiro, agora você estaria é com mais dindim no bolso?
Essa já é a realidade de alguns afortunados ao redor do mundo que, para diversificar sua carteira de investimentos, consideram o vinho uma excelente opção. O investimento em vinhos é classificado como “ativos reais”, ou seja, ativos que são normalmente de luxo ou únicos como as obras de arte ou “royalties” musicais. A classe de ativos reais vem ganhando relevância por ter retornos consistentes e não ser relacionada diretamente àas taxas de juros, ações ou mesmo ao crescimento econômico de um país.
O que vem se provando ao longo dos últimos anos é que, em tempos de turbulência de mercado, como a crise econômica nos Estados Unidos de 2008 ou a pandemia (coronavírus), os investimentos em vinhos finos são bastante insensíveis ao contexto macroeconômico, e isso tem atraído cada vez mais investidores.
Na pandemia, por exemplo, existiu um movimento interessante de novos investidores, principalmente das novas gerações. Conforme artigo publicado na Decanter Magazine em fevereiro de 2022, uma pesquisa com 2.000 investidores no Reino Unido encontrou uma enorme relação entre a Geração Z (até 25 anos) e o investimento em vinhos finos. Enquanto quase metade de todos os entrevistados da pesquisa dissem ter investido nos chamados ativos alternativos, como vinho fino, uísque, arte ou criptomoeda, essa proporção subiu para 62% entre os menores de 25 anos (Gen. Z). A pesquisa atrelou a inflação, o possível impacto das novas variantes do Covid, o Brexit e as alterações climáticas como as principais razões desses jovens escolherem investimentos alternativos.
A Liv-ex é uma empresa britânica que atua como uma espécie de bolsa de valores dos vinhos. Apesar de relativamente nova (fundada em 2000), ela já é referência no mundo quando o assunto são resultados. No fim de 2021 eles lançaram o habitual relatório anual dizendo que o resultado do mercado em 2021 cresceu em valor +20% desde o início do ano — um desempenho que ficava atrás apenas do petróleo, mas que era muito melhor que o FTSE 100 e o índice Dow Jones (bolsas convencionais de investimento em ações).
O que muitos de vocês devem estar se perguntando agora é se qualquer vinho pode ser um bom investimento. E a resposta imediata é: não! Esse investimento é algo restrito a vinhos finos de qualidade excelente. Esse mercado ainda é dominado por poucos produtores no mundo. Os vinhos mais negociados na Liv-ex, por exemplo, são conhecidos como “blue-chip labels”, ou seja, rótulos que apresentam maior liquidez e, consequentemente, são muito procurados pelos investidores. O nome é inspirado no jogo de pôquer, em que as fichas azuis são as mais valiosas. Esses “blue-chip labels” se resumem a grandes vinhos como Château Lafite, Château Mouton, Petrus, Domaine de la Romanée-Conti e toda turma top de Bordeaux e da Borgonha.
Já sabemos que alguns vinhos específicos conseguem melhorar com a idade, e esse conhecimento remonta ao século XVIII. Os cortesãos de Bordeaux desta época já faziam distinções entre vinhos adequados para envelhecimento e aqueles que eram para o consumo imediato. Uma série de inovações e tecnologias nos últimos séculos tornou ainda mais possível o envelhecimento prolongado dos vinhos, como por exemplo o uso do enxofre, o advento das rolhas e o uso contínuo das garrafas de vidro.
Nesse sentido, com vinhos podendo envelhecer por mais tempo e sendo opções cada vez mais seguras para investimento, o vinho tem um valor intrínseco que o torna adequado para a preservação da riqueza como investimento de médio a longo prazo. Independentemente de ser um investimento para retorno financeiro, a compra de vinhos com alta demanda já garante um retorno na comercialização futura se ancorado na alta dos preços pela escassez da oferta.
Em conversa com Leonardo Pinto, CIO da empresa brasileira de investimentos Bloxs, fica claro que, para o investidor brasileiro, investir em vinhos gera retornos em moedas mais fortes (Dólar ou Euro), o que é sempre recomendável dada a grande volatilidade do Real (BRL). Segundo Leonardo, a nossa moeda é a mais volátil do mundo, dentro das 20 maiores economias mundiais. Como o vinho é um investimento de longo prazo, a tendência é que haja retornos positivos, reduzindo o risco das carteiras de investimento, devido à menor instabilidade e menor correlação com outros investidores.
A previsão da empresa Bloxs para os próximos anos é de que o investimento em vinhos deve continuar gerando retornos positivos em USD, principalmente em um ambiente de alta da inflação e aumento dos juros nas economias desenvolvidas. Os vinhos são ativos reais e, por conta disso, costumam apresentar altas em linha ou acima da inflação, gerando essa proteção inflacionária. Além disso, as mudanças climáticas fazem com que exista uma redução das safras, diminuindo a oferta de vinhos de qualidade. Com uma oferta estagnada ou decrescente, mas uma demanda crescente pelos produtos, principalmente pelo aumento do consumo nas economias asiáticas, os preços das garrafas tendem a continuar subindo.
Depois de todo esse papo de boas previsões, se você quer começar a investir em vinhos, o ideal é usar uma empresa especializada como a Liv-Ex ou a brasileira Bloxs. A curadoria dos vinhos certos e uma plataforma simples de envio dos recursos vão garantir o sossego na hora de receber dividendos. Após aprender um pouco mais sobre esse universo, já estou ensaiando meus primeiros investimentos em vinho. A boa notícia dessa prática é que, se eu entender que não vou ganhar dinheiro, pelo menos o investimento vai servir para eu afogar as minhas mágoas em grande estilo. 😉