Pare. Olhe. Escute.
Quando eu era criança pequena lá em Catanduva, sempre repetia em minha mente o alerta ao ouvir o trem – quase um mantra – e acabei, num ato meio coach, carregando isso pra vida.
Na correria das nossas atividades diárias acabamos entrando num embalo que, por muitas vezes, nos impede de parar, olhar e escutar o que está acontecendo à nossa volta. Por isso, de quando em quando, é preciso que alguém nos chame, nos cutuque e leve a essas práticas.
Que papo de coach, hein Keli? Não, gente. É só uma introdução pra falar que até nossos projetos, por mais sucesso que tenham, precisam sempre de uma sacudida. E há alguns dias tive a oportunidade de participar de um seminário que foi um verdadeiro sacode no setor e um sacode nas verdades absolutas (que insisto, não existem) no mundo dos vinhos.
Uma iniciativa privada, frise-se, mas que alcançou muitos produtores que estão sob o guarda-chuva dessa empresa.
A EBV Urban Winery fica em Caxias do Sul – RS e é uma empresa de terceirização de vinhos. Um projeto do Alejandro Cardozo (enólogo conhecidíssimo pelo mundo) que atende cerca de 40 produtores hoje. Alguns recebem consultoria desde a produção das uvas até o engarrafamento, outros entregam suas uvas para serem vinificadas, outros só engarrafam… Mas quase todos estiveram lá e foram colocados a pensar.
O foco foi claro: não é apenas produzir bem agora, mas gerar movimentos constantes no setor e sair da zona de conforto. Alguns insights interessantes:
“O Brasil faz ótimos espumantes”. Mas já chegamos ao nosso máximo?
Provamos espumantes frescos e frutados elaborados em tanque com diferentes perfis. Cachos inteiros, basalto (sim, o solo típico da Serra) e processos de fermentação distintos ganham protagonismo e transformam o conceito de um charmat leve e frutado, à beira da simplicidade.
“Você é o que você come”. Vale para as leveduras também!
A diferença de nitidez e elegância em espumantes cujas leveduras sofreram nutrições distintas é evidente. A fórmula comum não funciona para quem quer ir além. Aliás, a microbiologia também não é a mesma… E os consumidores enjoam rapidinho do “mais do mesmo”.
“Sem tempo, irmão”. Não tem barrica para fermentar vinho base?
Não tem tempo para desenvolver o perfil que se deseja no espumante? Fizemos uma prova comparativa utilizando o Nobispark, uma linha de bidules (saiu ao mercado em 2019) que transforma e encurta o caminho até o estilo de espumante desejado. Sim, por mais conservadores que sejamos, os boletos batem à porta e é preciso entender necessidades mercadológicas.
“Essa nota amendoada vem da madeira”.
Esqueça a cartilha do Chardonnay barricado. Testemos diferenças incríveis em Chardonnays do Rio Grande do Sul sem passagem por madeira e com notas de amêndoas e avelãs, graças à levedura utilizada.
Tivemos ainda uma super imersão nos perfis de barricas, nas técnicas mais modernas de tostas e no que refletem nos vinhos. E, por fim, uma degustação de espumantes, brancos, rosés e tintos de regiões clássicas do mundo que dão novas roupagens constantes aos seus vinhos. Um verdadeiro sacode para quem pensa que o Brasil atingiu seu melhor momento e que devemos nos conformar por aqui.
Pare, olhe e escute. Estamos ainda em fermentação…
Até a próxima coluna!
Obs. Meu super obrigada ao Alejandro, Letícia e Márcia pela oportunidade de participar