O que falamos, quando falamos sobre enoturismo?

O que é enoturismo?

Picnic nos vinhedos com direito a queijos e embutidos locais. Almoço harmonizado com o/a winemaker. Oficinas de pintura com tinta de Cabernet Sauvignon, ateliês de assemblage de vinhos. Festivais de música, feiras de artesanato, exposições de arte. Webinars, spa com cosméticos de uva, caça ao tesouro, palestras, performances, saraus, passeios a cavalo. Há mesmo muito que já foi feito no âmbito de uma visita vínica e foi chamado de enoturismo. Por isso, ao contrário do que se pode pensar, um tour pela vinícola, culminado na degustação de três ou quatro rótulos, é só o começo.

A ideia de que talvez seja interessante conhecer o local de produção do vinho está baseada na premissa de que o vinho em si não é um produto isolado. Ele nasce de um lugar, sob um céu, sobre um solo que tem determinadas características e não outras, e é feito por mãos que têm dada história, que já viram outras mãos trabalharem, já cometeram erros e aprenderam o que funciona melhor e por quê.

É o que nos faz lembrar que todo vinho tem um passado, um senso de lugar, das pessoas por trás, e temos diversos meios ao nosso dispor pra aprender essas histórias. Provar o que está na taça, como é evidente, é um deles, mas nem se compara ao nível de estímulos que nosso cérebro recebe dos nossos sentidos quando estamos no local de origem observando a paisagem que deu vida à matéria-prima, sentindo os cheiros dos arredores onde cresceu essa uva, ouvindo a pessoa que pôs ali sua alquimia.

Mesa com frutas, frutos secos e vinho

Sobre a palavra origem, quero meditar um pouco ainda. Em alguns lugares do mundo há instituições designadas para regulamentar os aspectos das diferentes fases de produção e comercialização, de forma a preservar saberes e métodos ancestrais, garantir a consistência das características finais que ajudam a identificar o produto local e proteger o seu nome, associando-o a uma única origem. Na Europa há alguns milhares de alimentos protegidos por suas Indicações de Procedência, Apelações ou Denominações Protegidas, e no Brasil, por curiosidade, há Denominações de Origem para o Guaraná Nativo de Andirá-Marau (PA), o Café da Serra da Mantiqueira (MG), o Camarão da Costa Negra (CE), e o vinho do Vale dos Vinhedos (RS), pra citar alguns exemplos.

A julgar pelo número de DOs (denominações de origem) e equivalentes espalhadas pelo mundo, não há produto na face da terra com mais ligação às suas origens do que o vinho. Por isso mesmo, a riqueza em ir explorá-lo direto na fonte.

Da perspectiva do/a produtor/a, o que se pode fazer para enriquecer a experiência de um/a visitante é apropriar-se da narrativa de seu território e divulgá-la fazendo uso de sua melhor criatividade. Aquelas ideias de atividades enoturísticas, como ateliês, vinoterapia, exibições de arte e literatura? Servem para lembrar que associar o vinho a outros domínios não só agrega valor ao líquido na garrafa, como promove todo um leque de aprendizados e sensações, e portanto conecta o/a visitante com uma dimensão emocional mais profunda.

Nesta coluna vou trazer dicas de regiões vitivinícolas pra visitar, ideias de atividades diferentes, curiosidades históricas e relatos pessoais, mas antes disso, quero que estejamos na mesma página quanto aos significados de fazer uma viagem enoturística.

Do meu lado, quando eu visito um produtor, vou em busca de me aproximar da matéria-prima daquilo que consumo, estando às vezes distante dela no meio das grandes cidades. Quando visito um produtor, escuto, observo e absorvo um pouquinho do seu conhecimento do território, da história e cultura, aprendo com suas técnicas de prova e sua leitura da terra. Quando visito um produtor, sei do meu papel ali como ferramenta de valorização de um patrimônio cultural e preservação paisagística, e sei que o enoturismo, do lado ‘eno’, colabora para uma forma de consumo do vinho mais engajada, e do lado ‘turismo’, para uma forma consciente e prazerosa de navegar o mundo.

Assinatura Lana Ruff Vinhos Única

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