Regiões vinícolas para fazer um bate volta

Uma escapadela das grandes cidades: regiões vitivinícolas para um bate-volta

Problema de primeiro mundo nº1: são duas da tarde, você está no centro de Paris, faz sol e a fome é grande. Não há mesas, você não aguenta mais comer sanduíche, nem crepe, a circulação na panturrilha já não é a mesma coisa e você só quer sentar. Mas todos ao seu redor tiveram a mesma ideia.

Problema de primeiro mundo nº2: você compra passagens com 279 meses de antecedência e sorri descansado/a: “quando for mais perto eu reservo o hotel”. Pimba. Três meses antes, e o melhor, pra não dizer único negócio é uma cama de solteiro com banheiro compartilhado, sem café da manhã, fora do centro, por uma bagatela de três dígitos à noite.

Problema de primeiro mundo nº3: parece que não tem espaço. Este é grave. Todo mundo quer espaço. Fila, metrô lotado, lista de espera, garçom de mau humor, cotovelo no estômago, é esse o retrato escondido das zonas turísticas das grandes cidades. Espaço, a propósito, é um dos componentes do luxo. Tempo é outro. E imagina que luxo então abrir mão da experiência chiquérrima que é o bate-tronco de uma Zara lotada numa Champs Elysées da vida pra olhar ao redor e ver algo parecido com isto:

Já entramos no mérito do consumo responsável, mas meu apelo desta vez é outro: é que é GOSTOSO fugir da cidade e ir pro campo. Por isso, talvez caiba no planejamento daquela Eurotour passando por Roma, Paris, Amsterdam, Barcelona etc, trocar as filas do Coliseu, do Arco do Triunfo, da Sagrada Família, por um dia fora do fervo.

Se couber, vão aí oito sugestões de regiões vitivinícolas próximas a grandes centros urbanos pra visitar, respirar, engajar e provar bons vinhos.

SÃO PAULO > Serra da Mantiqueira: 2h30

Um clássico pegar 4h de volante saindo de São Paulo num trajeto que deveria durar 2h, mas a sensação no fim do domingo costuma ser de que pelo menos deu pra dar uma boa recarregada. Esse input de energia fica ainda mais bonito quando envolve conhecer a fundo o território que nos rodeia através dos frutos que ele dá. No caso do sudeste do Brasil, esse estudo sensorial da relação vinho x terra é particularmente interessante. Olha aqui por quê.

PARIS > Champagne: 1h45

Alguém falou em luxo? Se quer viver a verdadeira vida estressante de um parisiense carrancudo, desafie-se a transpor o percurso da locadora de carros até a estrada nacional que leva a Reims sem tomar nenhuma buzina na cabeça. Uma vez em Champagne, vinhas a perder de vista, 250km de caves subterrâneas esculpidas nos solos de giz e mais de 200 milhões de garrafas em sono profundo. Os preços são também efervescentes, mas come-se melhor do que um entrecôte duro e seco num bistrô do Marais.

BARCELONA > Priorat: 2h

“Beu vi e viu bè”, diz o ditado catalão: beba vinho e viva bem. O mais prudente é seguir a recomendação da sabedoria ancestral coletiva e fazê-lo na origem da coisa. A região do Priorat é uma bolinha perdida no meio do lindíssimo Parque Natural da Serra de Montsant, uma reserva montanhosa de tirar suspiros. Os vinhedos ondulam em terraços plantados nas encostas verdes e a concentração implausível dos vinhos locais é um contrassenso para a dureza de um solo único no mundo, chamado llicorella. Paraíso dos/as geeks.

LISBOA > Colares: 50min

Aqui não é nem a questão de que faz bem escapar do turismo massivo, respirar ar puro, conhecer algo que já não tenha sido fotografado centenas de milhares de vezes. É que Colares é esse lugar minúsculo à beira-mar de que quase ninguém fala, mas que tem vinhas crescendo literalmente na areia, com raízes que literalmente ultrapassam os 8m de profundidade, fazendo vinhos que literalmente vivem mais de meio século na garrafa.

LONDRES > Surrey, Sussex, Kent: 2h

Já ouviu falar em capitalismo do desastre? É a premissa de que tem sempre alguém que acaba lucrando com a tragédia coletiva. Às vezes são as fábricas de álcool-gel, e às vezes são ilhas gélidas no Atlântico Norte que, graças ao aumento consistente da temperatura atmosférica, já conseguem fazer espumantes de alta qualidade. De Londres aos vinhedos do sudeste do país vai uma viagem bastante inusitada, de carro ou de trem, com belas vistas e belas bolhas.

MONTEVIDÉU > Maldonado: 2h50

É admirável a qualidade, a evolução e a consistência do trabalho que os produtores de vinho uruguaio têm feito ao longo das últimas décadas. Alguns prêmios importantes de abrangência global vêm reconhecendo o papel que este pequeno, mas portentoso país pode ter na cena internacional de vinhos. Por isso, entre os muitos itens de uma deliciosa lista de coisas a se fazer neste país de hermanos, convém que conste ao menos uma visita a uma bodega.

NÁPOLES > Campania: 1h30

Motivos pra visitar os vinhedos na região imediatamente a leste de Napoli: os solos são de calcário muito puro, o clima é de montanha apesar da proximidade ao Mediterrâneo, as castas Aglianico, Fiano e Greco são únicas, os vinhos resultantes são de uma acidez irresistível. Fun (not so fun) fact: em 1980 a província de Avellino passou por um terremoto colossal, que justifica em parte o contexto de desigualdade social em que vive a região. Passeando de carro por lá vê-se aldeias à antiga, metidas no meio de vales ou em encostas ensolaradas, com ruas estreitas de paralelepípedos e tudo. Só um detalhe: a construção é toda em alvenaria, e não em pedra como se espera de um vilarejo nos confins dos Apeninos. É uma mistura interessante do charme rural mediterrânico com o pragmatismo anti-estético da construção civil moderna.

CAPE TOWN > Stellenbosch: 1h10

É tipo safari, mas com menos questões éticas e mais líquido envolvido. Em matéria de enoturismo, a África do Sul não brinca em serviço e já há muitos anos está bem preparada pra receber olhos abertos, ouvidos atentos e paladares curiosos pra interpretar a cena vitivinícola local. O distrito de Stellenbosch é central em todos os sentidos para o vinho sul-africano, e acontece de estar enquadrado numa paisagem de beleza natural descomedida.

Aí está. Que se extingam as filas para subir no Arco do Triunfo.

E quem sugeriu isso tudo lembrou ainda que beber e dirigir é perigoso e saiu da sala.

Assinatura Lana Ruff Vinhos Única

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Nesse texto o Pablo Fernandes vai nos ajudar a explorar as interações sensoriais entre receptores gustativos e acidez no vinho.