Harmonização vinhos e queijos brasileiros

Harmonizando: queijos brasileiros e vinho

Basta o clima mudar e o tempo esfriar para que os amantes de queijos e vinhos passem a montar as mais belas e diversificadas tábuas. Ainda que seja prazeroso o momento de comer e beber o que foi pensado, há sempre uma angústia prévia relacionada à dúvida sobre quais queijos escolher. E essa angústia só perde para a dúvida de quais vinhos servir para melhor acompanhá-los, não é mesmo?

A gastronomia no Brasil, infelizmente, tem uma tendência muito parecida com a do mundo dos vinhos em sofisticar mais do que se deve alguns preparos e até a forma como eles são servidos. O que me causa uma certa inquietação ainda maior do que essa busca frenética constante pela “gourmetização” de tudo, é que ainda haja uma supervalorização do que vem de fora. Nosso país segue voltando os olhos e pagando mais caro pelo produto que não é produzido em nossas terras, e isso deveria ser inaceitável, dada a qualidade do que se obtém em nossas produções de itens diversos. Deveríamos fomentar a nossa própria preservação cultural e a movimentação do mercado interno.

Dito isso, voltemos ao motivo do texto e façamos uma breve reflexão: os queijos brasileiros são os mais procurados e/ou consumidos pelos amantes de vinhos, quando pensadas harmonizações para tal? Não, infelizmente. Nossos queijos, ainda que potencialmente mais saborosos que muitos outros trazidos do exterior, não são as primeiras escolhas, e isso também ocorre pela falta de informação a respeito das possibilidades e características que temos da vasta produção nacional.

Para facilitar a ampliação desse conhecimento, portanto, trago aqui 3 queijos brasileiros, premiados internacionalmente ou não e, ainda, algumas possibilidades de harmonização com eles, para que as próximas tábuas que vocês venham a montar, sejam, no mínimo, patriotas (rsrs).

Iniciemos pelo Queijo Tulha com maturação de 12 meses e sabores frutados, sal levemente acentuado, além de sua textura quebradiça. Este queijo já teve grandes premiações e ganhou o coração de muitos chefs de cozinha, que o incorporaram facilmente às suas preparações, aproveitando-se inclusive de sua semelhança com um queijo parmesão. Para harmonizá-lo, vinhos brancos que contenham uma boa acidez e aromas de frutas, além dos espumantes, serão sempre a melhor opção.

Queijo brasileiro artesanal

Agora, um dos queijos mais emblemáticos para a produção de lanches, mas que não costuma ser incluído em tábuas de degustação, o Cheddar, pode ser lembrado com muito mais qualidades sensoriais se usarmos o Queijo Mogiana. Um queijo de maturação aproximada de 90 dias, cor alaranjada, como os bons cheddares ingleses, mas que aqui ganha esse tom pelo acréscimo do urucum, um corante natural da nossa terra. A acidez deste queijo é acentuada, sua textura é cremosa, e o alto percentual de gordura o permite derreter facilmente e, por este motivo, ser tão usado na produção de lanches ou racletes. A sugestão de harmonização aqui fica para os brancos. Pessoalmente falando, já o provei com vinhos da uva Chardonnay com toques mais amanteigados e frutados, e  eles conversam lindamente com este impressionante laticínio, até pelas já conquistadas medalhas de 2º e 3º lugar no Prêmio Queijos Brasil.

Por último, mas não menos importante, um queijo já popularizado em todo o país, que ganhou sua repercussão inclusive por ser considerado Patrimônio Imaterial pelo IPHAN. O Queijo Serra da Canastra apresenta período de cura ideal para consumo após 2 ou 3 semanas, assumindo características que tornam seu sabor levemente salgado e picante ao mesmo tempo. Com textura firme, este é um perfeito componente a ser adicionado a tábuas, e sua harmonização vai ao encontro de vinhos que possam amenizar as características que mencionei anteriormente. Picância e sal, para este caso, serão facilmente trabalhados com os tintos mais robustos com taninos, que possam inclusive apresentar notas de pimenta e potencializar essa harmonia.

Se surgirem dúvidas no momento de montar uma tábua, que não sejam mais relacionadas à possibilidade de dar destaque a queijos brasileiros. Já está mais do que provado que o nosso produto interno, quando consumido por nós, além do prazer que nos gera por suas características organolépticas, é ainda fomento da preservação da biodiversidade, de saberes e fazeres de comunidades e pequenas regiões. Ah, e também mantém os recursos financeiros aqui mesmo, no nosso país.

Defesa feita e semente plantada, parto para trabalhar nos próximos conteúdos, enquanto aguardo a colheita que virá com mais queijo nacional nas mesas de muitos de vocês por aí! 😉

Assinatura Vinhos Única Chef Aline Guedes

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